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A pesar de que ha constituído su ?gura pública a través de la poesía y de la canción popular, Vinicius fue uno de los grandes escritores de prosa de su generación (una generación, sería oportuno recordarlo, cuya prosa estaba cristalizada en su gran parte por el carioquísima género de la crónica).

 

 

Con un amplio número de periódicos que circulaban por la ciudad, y un equipo de escritores que abarcaba desde Rubem Braga hasta Carlinhos de Oliveira, desde Carlos Drummond de Andrade hasta Clarice Lispector, y desde Fernando Sabino hasta Nelson Rodrigues, Vinicius se ubicaba entre ellos como un cronista que transmitía en su prosa los mismos motivos y la misma leveza de estilo que le presentaba al público en sus poemas.

 


Agua clara con sonido
Vinicius de Moraes
Poesia/crônica

AGUA CLARA CON SONIDO


De Garcilaso de la Vega dizia-se que era el más hermoso y gallardo de cuantos componían la corte del emperador. Chamavam-no, sem inveja, el amado de los dioses y su elegido. Morto com a idade de Cristo (1503-36), viveu o grande toledano uma vida de um brilho raro, distribuída entre um desterro, muitas batalhas e, nos interlúdios, lindas mulheres, entre as quais sobressai sua maior paixão, dona Isabel Freyre, dama portuguesa da corte da imperatriz Isabel, que, aparentemente, não lhe dava o devido troco. Mas a verdade é que o poeta-cortesão ia levando, a mão nos copos da espada, um sorriso nos lábios e estrofes de Virgílio, Dante e Petrarca na ponta da língua, para amaciar corações outros que não o da bem-amada.

Era um bravo, à maneira de Villon e de Camões. Tão bem a cavalo como a pé, amigo de poetas e de santos, morreu nos braços de seu amigo, o marquês de Lombay, que a Igreja canonizaria como são Francisco de Borja, depois de, sozinho, dar início ao assalto à fortaleza de Muy, na Provença. Mas quando repousava-se das armas, empunhava, ao que se conta, a harpa com igual mestria. Formal, no sentido clássico, sem ser culterano, soube deixar fluir de sua curta mas magistral obra poética uma luminosa música verbal que o distingue entre os pioneiros do chamado Século de Ouro da poesia espanhola. E foi também um extraordinário inovador, não só com trazer para a lírica de sua pátria os elementos positivos da escola italiana, mas com enriquecê-la de criações novas, qual seja a estrofe composta de versos de cinco, sete e onze sílabas, conhecida como estrofe-lira, por ser esta a palavra final do primeiro verso de sua famosa canção “A la flor de Gnido”:

Si de mi baja lira
tanto pudiese el son que en un momento
aplacase la ira
del animoso viento
y la furia del mar, y el movimiento...

E que maior glória para Garcilaso, ver suas inovações constituírem as formas diletas de poetas espanhóis do século VI da estatura de frei Luis de León e, sobretudo, San Juan de la Cruz?

Há um verso do poeta que me encanta, na écloga dedicada ao vice-rei de Nápoles, em que são personagens seus dois filhos pastoris mais amados, Salicio e Nemeroso. Vem lá pelo meio do poema, e diz assim:

... cuando Salicio, recostado
al pié de una alta haya, en la verdura,
por donde una agua clara con sonido
atravesaba el fresco y verde prado...

O verso a que me refiro, como já hão de ter percebido, é o terceiro do trecho aqui citado: “por donde una agua clara con sonido”. É inútil tentar traduzir. Água clara com som, água clara com ruído — nada terá nunca a beleza natural, a luminosidade de córrego límpido correndo fagueiro ao sol, o onomatopeísmo substantivo, sem necessidade de aliterações, do verso original de Garcilaso. São como sons puros de música.

Eu, se jamais tivesse feito um verso assim, pendurava as chuteiras.

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