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Três respostas em face de Deus
Vinicius de Moraes
Poesia

TRÊS RESPOSTAS EM FACE DE DEUS


         Familles, je vous hais! foyers clos;
         portes refermées; possessions jalouses du bonheur.
         A. Gide

          C’est l’ami ni ardent ni faible. L’ami.
          Rimbaud

          ... ô Femme, monceau d’entrailles, pitié douce,
          Tu n’est jamais la Soeur de charité, jamais
          Rimbaud


Sim, vós sois... (eu deveria ajoelhar dizendo os vossos nomes!)
E sem vós quem se mataria no presságio de alguma madrugada?
À vossa mesa irei murchando para que o vosso vinho vá bebendo
De minha poesia farei música para que não mais vos firam os seus acentos dolorosos
Livres as mãos e serei Tântalo — mas o suplício da sede vós o vereis apenas nos meus olhos
Que adormeceram nas visões das auroras geladas onde o sol de sangue não caminha...

E vós!... (Oh, o fervor de dizer os vossos nomes angustiados!)
Deixai correr o vosso sangue eterno sobre as minhas lágrimas de ouro!
Vós sois o espírito, a alma, a inteligência das coisas criadas
E a vós eu não rirei — rir é atormentar a tragédia interior que ama o silêncio
Convosco e contra vós eu vagarei em todos os desertos
E a mesma águia se alimentará das nossas entranhas tormentosas.

E vós, serenos anjos... (eu deveria morrer dizendo os vossos nomes!)
Vós cujos pequenos seios se iluminavam misteriosamente à minha presença silenciosa!
Vossa lembrança é como a vida que não abandona o espírito no sono
Vós fostes para mim o grande encontro...

E vós também, ó árvores de desejo! Vós, a jetatura de Deus enlouquecido
Vós sereis o demônio em todas as idades.

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