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Soneto da mulher inútil
Vinicius de Moraes
Poesia
SONETO DA MULHER INÚTIL
De tanta graça e de leveza tanta
Que quando sobre mim, como a teu jeito
Eu tão de leve sinto-te no peito
Que o meu próprio suspiro te levanta.
Tu, contra quem me esbato liquefeito
Rocha branca! brancura que me espanta
Brancos seios azuis, nívea garganta
Branco pássaro fiel com que me deito.
Mulher inútil, quando nas noturnas
Celebrações, náufrago em teus delírios
Tenho-te toda, branca, envolta em brumas
São teus seios tão tristes como urnas
São teus braços tão frios como lírios
É teu corpo tão leve como plumas.
Rio, maio, 1943