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Valsa à mulher do povo
Vinicius de Moraes
Poesia

VALSA À MULHER DO POVO


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Oh, minha amiga da face múltipla
Do corpo periódico e geral!
Lúdica, efêmera, inconsútil
Musa central-ferroviária!
Possa esta valsa lenta e súbita
Levemente copacabanal
Fazer brotar do povo a flux
A tua imagem abruptamente
Ó antideusa!

Valsa
Te encontrarei na barca Cubango, nas amplas salas da Cubango
Vestida de tangolomango
Te encontrarei!
Te encontrarei nas brancas praias, pelas pudendas, brancas praias
Itinerante de gandaias
Te encontrarei. Te encontrarei nas feiras-livres
Entre moringas e vassouras, emoldurada de cenouras
Te encontrarei. Te encontrarei tarde na rua
De rosto triste como a lua, passando longe como a lua
Te encontrarei. Te encontrarei, te encontrarei
Nos longos footings suburbanos, tecendo os sonhos mais humanos
Capaz de todos os enganos
Te encontrarei. Te encontrarei nos cais noturnos
Junto a marítimos soturnos, sombra de becos taciturnos
Te encontrarei. Te encontrarei, ó mariposa
Ó taxi-girl, ó virginette, pregada aos homens a alfinete
De corpo sax e clarinete
Te encontrarei. Ó pulcra, ó pálida, ó pudica
Ó grã-cupincha, ó nova-rica
Que nunca sais da minha dica; sim, eu irei
Ao teu encontro onde estiveres
Pois que assim querem os malmequeres
Porque és tu santa entre as mulheres
Te encontrarei!

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