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1947. BREVE RETORNO AO CHILE E CRIAÇÃO DE “CANTO GENERAL”
(O senador Pablo Neruda
Perseguido pela polícia de González Videla
Refugia-se no seio do povo, que o oculta
De casa em casa, de choupana em choupana
Cada vez que o perigo ameaça, o povo
Ama o seu poeta, faz em torno dele um muro
De silêncio, dá-lhe pão
Queijo e vinho, a morte ronda com os patrulheiros
A senha passa, à noite levam-no embuçado
Para outro sítio, mil olhos campesinos
Vigiam, as estrelas vigiam, a Lua
Se oculta entre nuvens para que não o vejam
Os assassinos, súbitas tormentas
Desencadeiam-se à aproximação furtiva
De seus passos, o poeta com a cabeça
Em chamas vê distante a cordilheira, os altos
De Macchu Picchu, a queda dos meteoritos
Sobre o crepúsculo da iguana, as roxas
Procissões, o pastor peruano
A tanger doces lhamas
Os pueblos, as nações
Empapadas de sangue, a mão
Em garra dos tiranos, e o poeta
De rua em rua, rio em rio, casa em casa
Cidade em cidade, diz adeus ao cobre
Se afasta do salitre, come as pétalas
De vermelhas papoulas, transpõe léguas
Em lombo de muares, o poeta
Contra os azares, contra o vento
Possui a América!)