Após escrever quatro livros em cinco anos, Vinicius faz o inverso: fica cinco anos sem publicar. Nesse período, sua vida passa por uma série de intensas mudanças. Entre elas, a principal: casa-se com Beatriz Azevedo de Mello, a Tati, sua primeira mulher. Depois de breve temporada na Inglaterra para estudar literatura, mora na Gávea e, em 1940, tem a primeira filha, Susana. Muda-se para o Leblon e ingressa, em 1942, na carreira diplomática.
O ano de 1942 foi decisivo na vida de Vinicius. É quando ele conhece outras realidades sociais no Rio e no Brasil ao lado do escritor norte-americano Waldo Frank. Outra viagem marcante foi a Minas Gerais, ocasião em que cria laços eternos com o Estado e faz amigos como Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Hélio Pellegrino. É também quando tem o primeiro impulso para começar a conceber o que anos depois seria a peça Orfeu da Conceição. Vinicius já era um homem maduro, casado, e atuava na imprensa carioca escrevendo principalmente sobre cinema.
Assim, suas Cinco Elegias são o resultado desse momento em que Vinicius encerra um ciclo de vida, ligado à juventude católica e a uma poética circunspecta, para inaugurar outro, ligado à vida nas ruas, aos amores derramados e a uma intensa atividade intelectual – seja nos livros e jornais, seja nos bares que reuniam a nata das artes e do pensamento carioca e brasileiro de então.
Outro ponto para enxergarmos esse aspecto de balanço e superação do livro, além do arrojo formal e da experimentação com a linguagem poética que podemos encontrar em muitos dos seus versos, é a reunião do seu passado com o seu presente. O volume, feito com a ajuda de amigos como Manuel Bandeira e Aníbal Machado – é dedicado a Otavio de Faria, Mario Vieira de Mello e José Arthur da Frota Moreira, amigos da juventude, aqueles que o levaram à poesia. Cinco Elegias fecha um período de Vinícius, publicando poemas que foram escritos ou iniciados ainda em 1937 e, seis anos depois, ganham corpo no livro.