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OS ELEMENTOS DO ESTILO
Leio no matutino El País, de Montevidéu, uma boa crítica, ou melhor, resenha, do livro de William Strunk Jr., The Elements of Style, com revisão, introdução e capítulo adicional de E. B. White, editado por Macmillan em Nova York no ano em curso. Um opúsculo de 84 páginas, aparentemente cheio de saber. À guisa de apresentação do autor, conta o crítico de El País que a parte de substância do livro já estava escrita por William Strunk Jr. desde 1918, quando era professor de altos estudos da língua inglesa, sendo E. B. White, então, aluno seu. Há dois anos, já morto o mestre em 1946, recebeu White — que crescera em renome como contista, ensaísta, poeta e repórter dessa excelente revista americana que é a New Yorker — um exemplar do livrinho, de que nunca mais soubera, o que fê-lo escrever um nostálgico in memoriam para a sua publicação. A onda que fez o artigo foi colhida pelo receptor de Macmillan, e é este o resumo da ópera.
A dar crédito ao crítico de El País, o livro representa, para o escritor em língua inglesa, e mesmo nas demais, uma bengala de indisfarçável utilidade, sobretudo num momento climáxico de atividade editorial, como o que vivemos. E eis como situa ele, ao isolar num parágrafo o módulo do pensamento de Strunk: “A prosa vigorosa é concisa. Uma frase não deve conter palavras desnecessárias, nem um parágrafo frases desnecessárias, pela mesma razão que um desenho não deve ter linhas desnecessárias, nem uma máquina partes desnecessárias. Isto não quer dizer que um escritor faça breves todas as suas frases, nem que evite todo detalhe, nem que trate seus temas apenas na superfície; apenas que cada palavra conta”.
Para Strunk (atenção, “focas”, pois a linguagem jornalística é especialmente mencionada na obra!), os preceitos de um bom estilo podem resumir-se no seguinte:
- Use uma linguagem positiva: em vez de “habitualmente não chegava à hora”, diga “habitualmente chegava tarde”; em lugar de “não recordou” diga “esqueceu” — e isso porque, consciente ou inconscientemente, o leitor prefere que se diga o que é a o que não é.
- Seja concreto: “Sobreveio um período de tempo desfavorável” constitui uma vagueza. “Choveu diariamente uma semana” seria a boa fórmula.
- Abrevie o mais que puder: escrever “atos de natureza hostil” é alongar de dois centímetros “atos hostis”.
- Não qualifique: sempre que não se tratar de estabelecer uma opinião, a qualificação prévia é desnecessária. Dizer que é “interessante” o fato que se vai narrar é pichar o leitor de inimaginativo.
- Não use adornos: o estilo não é um molho para temperar uma salada; o estilo deve estar na própria salada.
- Coloque-se atrás do que escreve: escreva de tal forma que a atenção do leitor seja despertada sobretudo pelo sentido e pela substância do que está dito, e não pelo temperamento e pelos modismos do autor. O primeiro conselho a dar ao escritor que começa seria, pois: para chegar a um estilo, comece por não ter nenhum.
- Use substantivos e verbos: evite o mais possível adjetivos e advérbios. Não há adjetivo no mundo que possa estimular um substantivo exangue ou inadequado; isto sem subestimar adjetivos e advérbios, quando corretamente empregados. Mas a verdade é que são os nomes e os verbos que dão sal e cor ao estilo.
- Não superescreva (significando, aqui, don’t overwrite): a prosa excessivamente rica, adornada ou gorda torna-se mais facilmente nauseante.
- Não exagere e seja claro: primeiramente, porque o exagero pode tornar o leitor suspicaz; e a clareza, é lógico, facilita a comunicação. Mais vale recomeçar uma frase longa com que se está brigando, que persistir na briga. Frequentemente uma frase longa nada mais é que duas curtas.
- Não opine sem razão: ter por hábito ventilar opiniões próprias é prejulgar que o leitor as esteja pedindo, o que constitui um sinal de vaidade.
É isto em resumo. Há mais. Mas não espaço. E depois, é como diz o outro: se todos fossem da mesma opinião, o que seria da cor amarela? (Sendo que, neste caso, até que eu “entrava bem”, pois trata-se da minha cor preferida...)
Mas pobre Proust, pobre Dickens, pobre Balzac, pobre Melville, pobre Otávio de Faria...