Brasília, sinfonia da alvorada

O homem
Vinicius de Moraes e Antonio Carlos Jobim

Sim, era o Homem, 
Era finalmente, e definitivamente, o Homem. 
Viera para ficar. Tinha nos olhos 
A força de um propósito: permanecer, vencer as solidões 
E os horizontes, desbravar e criar, fundar 
E erguer. Suas mãos 
Já não traziam outras armas 
Que as do trabalho em paz. Sim, 
Era finalmente o Homem: o Fundador. Trazia no rosto 
A antiga determinação dos bandeirantes, 
Mas já não eram o ouro e os diamantes o objeto 
De sua cobiça. Olhou tranqüilo o sol 
Crepuscular, a iluminar em sua fuga para a noite 
Os soturnos monstros e feras do poente. 
Depois mirou as estrelas, a luzirem 
Na imensa abóbada suspensa 
Pelas invisíveis colunas da treva. 
Sim, era o Homem... 
Vinha de longe, através de muitas solidões, 
Lenta, penosamente. Sofria ainda da penúria 
Dos caminhos, da dolência dos desertos, 
Do cansaço das matas enredadas 
A se entredevorarem na luta subterrânea 
De suas raízes gigantescas e no abraço uníssono 
De seus ramos. Mas agora 
Viera para ficar. Seus pés plantaram-se 
Na terra vermelha do altiplano. Seu olhar 
Descortinou as grandes extensões sem mágoa 
No círculo infinito do horizonte. Seu peito 
Encheu-se do ar puro do cerrado. Sim, ele plantaria 
No deserto uma cidade muita branca e muito pura... 

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