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SURSUM
Eu avanço no espaço as mãos crispadas, essas mãos juntas — lembras-te? — que o destino das coisas separou
E sinto vir se desenrolando no ar o grande manto luminoso onde os anjos entoam madrugadas...
A névoa é como o incenso que desce e se desmancha em brancas visões que vão subindo...
— Vão subindo as colunas do céu... (cisnes em multidão!) como os olhares serenos estão longe!...
Oh, vitrais iluminados que vindes crescendo nas brumas da aurora, o sangue escorre do coração dos vossos santos
Oh, Mãe das Sete Espadas... Os anjos passeiam com pés de lã sobre as teclas dos velhos harmônios...
Oh, extensão escura de fiéis! Cabeças que vos curvais ao peso tão leve da gaze eucarística
Ouvis? Há sobre nós um brando tatalar de asas enormes
O sopro de uma presença invade a grande floresta de mármore em ascensão.
Sentis? Há um olhar de luz passando em meus cabelos, agnus dei...
Oh, repousar a face, dormir a carne misteriosa dentro do perfume do incenso em ondas!
No branco lajedo os passos caminham, os anjos farfalham as vestes de seda
Homens, derramai-vos como a semente pelo chão! O triste é o que não pode ter amor...
Do órgão como uma colmeia os sons são abelhas eternas fugindo, zumbindo, parando no ar
Homens, crescei da terra como as sementes e cantai velhas canções lembradas...
Vejo chegar a procissão de arcanjos — seus olhos fixam a cruz da consagração que se iluminou no espaço
Cantam seus olhos azuis, tantum ergo! — de suas cabeleiras louras brota o incêndio impalpável da destinação
Queimam... alongam em êxtase os corpos de cera, e crepitando serenamente a cabeça em chamas
Voam — sobre o mistério voam os círios alados cruzando o ar um frêmito de fogo!...
Oh, foi outrora, quando nascia o sol — Tudo volta, eu dizia — e olhava o céu onde eu não via Deus suspenso sobre o caos como o impossível equilíbrio
Balançando o imenso turíbulo do tempo sobre a inexistência da humana serenidade.